Renault Kwid quer ser SUV popular
Carro espartano apela ao estilo mais desejado do mercado
PEDRO KUTNEY, AB
Há alguns anos, o Kwid teria sido lançado como versão cross aventureira de um hatch compacto, mas com o boom do mercado de utilitários esportivos, ele já foi projetado para nascer sem escalas como um microsuv urbano. A Renault justifica o colar a classificação SUV no Kwid ao destacar seus traços de design mais “musculosos” e relatar as medidas do carrinho, com altura do solo (180 mm) maior que a de um hatch comum, além de ângulos de entrada (24°) e de saída (40°) próprios de um veículo mais disposto a enfrentar solos irregulares – no caso, os endêmicos buracos, valetas, lombadas e toda sorte de irregularidades encontradas em ruas brasileiras e de outros países subdesenvolvidos, como a Índia, onde o Kwid foi inicialmente projetado e vendido.
A Renault também destaca a posição de dirigir pouco mais elevada e o espaço interno do Kwid proporcionado pela distância entre eixos de 2,42 metros, além de porta-malas de 290 litros, acima dos concorrentes diretos VW Up! e Fiat Mobi. (Sim, a montadora insiste que trata-se de um SUV, mas só o compara com hatches subcompactos.)
Na prática, em um curto teste por ruas de São Paulo, o Kwid mostrou ser bastante mais apertado e espartano do que sua propaganda sugere. Se o motorista medir acima de 1,80 m e ajustar o banco (sem regulagem de altura) para seu conforto, quem vai atrás deve ter medida 20 centímetros menor para não roçar os joelhos no encosto do banco da frente.
VERSÕES
Apesar do acabamento rústico, dá para ter alguma dignidade dentro do Kwid, mas só se a versão escolhida for no mínimo a intermediária Zen (R$ 35.390), que vem equipada de série com direção elétrica, ar-condicionado, acionamento elétrico de travas e vidros dianteiros, rádio com Bluetooth e entradas USB e AUX. Segundo a Renault, esta foi até agora a versão mais procurada na pré-venda do modelo aberta desde junho, escolhida por metade dos clientes que reservaram o carro.
Melhor equipada, a opção topo de linha Intense (R$ 39.990) respondeu por 40% das reservas. Agrega retrovisores elétricos, faróis de neblina, central multimídia Media NAV 2.0 com navegação e câmera de ré, abertura elétrica do porta-malas, rodas de liga leve 14” e chave dobrável.
Muito espartano, o Kwid Life (R$ 29.990) de entrada teve só 10% das reservas. O modelo não tem sequer direção assistida, que a Renault só irá oferecer como opcional a partir de setembro, assim como o ar-condicionado.
SEGURANÇA E ECONOMIA
Para os mercados latino-americanos a Renault trabalhou melhor na segurança do Kwid, que foi muito mal em teste de colisão realizado pelo Global NCAP na Índia, onde não usa airbags e mostrou estrutura frágil. Aqui o Kwid ficou mais pesado, porque incorporou 30% de aços de alta resistência na carroceria e todas as versões vêm de série com dois airbags frontais (obrigatórios por lei no Brasil) e dois laterais para os ocupantes da frente – algo não obrigatório e inédito na categoria na região.
O carro também tem para os assentos dianteiros cintos de segurança com pré-tensionador pirotécnico e dois fixadores Isofix de cadeirinhas infantis. Também obrigatórios por aqui, os freios com ABS (antitravamento de rodas) ajudaram a melhorar o padrão de segurança do Kwid brasileiro.
Todas as versões do Kwid usam o moderno motor flex SCe 1.0 de três cilindros, 12 válvulas, duplo comando de válvulas (DOHC) e bloco em alumínio, que desenvolve 70 cavalos (com etanol), suficientes para carregar bem apenas 758 kg de peso do veículo. O modelo também estreia a transmissão manual de cinco marchas SG1, mais leve e eficiente. já introduzido pela Renault no fim do ano passado nas linhas 2017 do Sandero e Logan.
Muito leve e com essa motorização o Kwid é dos mais econômicos do País, ganhou nota A na classificação do Inmetro/Conpet, com consumo medido de 10,3/14,9 km/l (etanol/gasolina) na cidade e de 10,8/15,6 km/l na estrada. Ajudam na economia os indicadores de troca de marchas e de condução, também de série.
As vibrações irregulares do propulsor tricilíndrico são bastante sentidas no volante quando está em marcha lenta, mostrando que o isolamento é insuficiente.
PROJETO DE BAIXO CUSTO
O novo carro popular lançado agora no Brasil nasceu do projeto da plataforma global CMFA, que começou a ser desenhada para países emergentes ou subdesenvolvidos há seis anos pela Aliança Renault-Nissan, dando origem entre outros modelos ao Renault Kwid e ao Datsun (marca popular da Nissan) Redi Go, ambos introduzidos primeiro no mercado indiano.
Antonio Fleischmann, diretor de projetos da Renault América Latina, conta que o Kwid foi desenvolvido sob o conceito de “inovação reversa frugal”. Segundo ele, normalmente as montadoras retiram conteúdo de plataformas desenvolvidas no exterior para adaptar carros a países de baixo poder aquisitivo. “Na inovação reversa parte-se do princípio contrário, focando no cliente local desde o início, para reduzir os custos ao máximo”, explica.
A Aliança Renault-Nissan criou um time global 100% dedicado a esse conceito de projeto, com o objetivo de reduzir ao máximo a massa dos modelos e assim baixar os custos de produção. Seguindo esse princípio, no Brasil uma equipe de 290 engenheiros dedicou 200 mil horas de desenvolvimento para o Kwid, que rodou 1 milhão de quilômetros e passou por 35 testes de colisão.
Assista abaixo entrevista exclusiva de Luiz Pedrucci, presidente da Renault do Brasil, sobre o Kwid